sábado, 25 de fevereiro de 2012

Spurgeon e a Controvérsia do declínio: Um alerta urgente para a igreja do Século 21

“A apatia está por toda parte. Ninguém se preocupa em verificar se o que está sendo pregado é verdadeiro ou falso. um sermão é um sermão, não importa o assunto; só que, quanto mais curto melhor”.   Charles Haddon Spurgeon


[Ao final da era puritana] por um meio ou por outro, primeiramente os ministros, depois, as igrejas, entraram no ”declínio”; em alguns casos, a descida foi rápida, e em outros, desastrosa. Á proporção que os ministros abandonavam a antiga piedade de vida puritana e a antiga fé nas doutrinas da graça e soberania de Deus, tornavam-se menos fervorosos e menos simples em sua pregação, mais especulativos e menos espirituais seus discursos e se detinham mais nos ensinos morais do Novo Testamento do que em outras verdades centrais da revelação. A teologia natural com frequência tomou o lugar das grandes verdades  que o evangelho deveria ter ocupado, e os sermões  se tornavam mais e mais destituídos de Cristo. Os resultados correspondentes no caráter  e na vida, primeiro dos pregadores e, em seguida, do povo, eram nitidamente visíveis.

                                                                     *A Espada e a Colher de Pedreiro

Em março de 1887, Charles Spurgeon publicou o primeiro de dois artigos intitulado “O Declínio” , em sua revista mensal, A Espada e a Colher de Pedreiro. Os artigos foram publicados sob anonimato, mas o autor era Robert Shindler, um amigo íntimo de Spurgeon e, como este, pastor batista. Shindler escreveu os artigos com a ajuda de Spurgeon, que redigiu uma nota de rodapé para o primeiro artigo, endossando-o com as seguintes palavras: “Solicitamos cuidadosa atenção á leitura deste artigo. Estamos indo ladeira abaixo á velocidade de quebrar o pescoço”.

Descrevendo a situação da igreja, desde os puritanos até sua própria época, Shindler constatou que todo avivamento da verdadeira fé evangélica fora seguido, dentro de uma geração ou duas, por um afastamento da sã doutrina, conduzindo, por fim, a apostasia. Ele comparou esse afastamento da verdade como uma ladeira em declive e, por isso, chamou-o de “O Declínio”.

“Os presbiterianos foram os primeiros a chegar ao início da ladeira”, Shindler escreveu. Tomaram o caminho da sabedoria humana: ”Deram mais ouvidos aos conhecimentos clássicos e outros campos do saber...Foi, portanto, um passo fácil na direção errada, prestaram atenção redobrada aos conhecimentos acadêmicos dos seus ministros e pouca atenção ás qualificações espirituais; colocaram mais valor na escolaridade e na oratória do que no zelo evangélico e na capacidade de manejar bem a palavra da verdade”.

Shindler afirmou também:

Como é comum as pessoas em declínio, alguns chegam além do que tencionavam, demonstrando  que é mais fácil entrar no erro do que sair dele e que, não havendo freios, torna-se difícil parar. Aqueles que abandonaram a antiga fé podem nem ter sonhado em negar a perfeita divindade do filho de Deus ou em renunciar a fé em sua morte expiatória e em sua justiça justificadora; nem sonhado em rejeitar a doutrina da depravação humana, da necessidade de renovação divina e da obra graciosa do Espírito Santo, tendo sonhado ou não, este resultado tornou-se realidade.

Dentro de poucas décadas, o fervor puritano que tanto captara a alma da Inglaterra deu lugar a um ensino vazio, negligente e apóstata. As igrejas se tornaram descuidadas em estender os privilégios de membresia a pessoas não-regeneradas. Pessoa que eram, nas palavras de Shindler, “estranhas à obra da graça regeneradora” alegavam ser cristãos e foram admitidos à membresia, até mesmo a liderança, nas igrejas. Mas, em termos de teologia, é muito comum descobrimos que o verdadeiro não é novo e que o novo não é verdadeiro”.

Como é que tantas igrejas que acreditavam na Bíblia se desviaram?
E por que isto se repete constantemente na história da igreja? Shindler considerou essas questões:

“No caso de um desvio, existe sempre um primeiro passo errado. Se conseguirmos descobrir este primeiro passo, talvez possamos evitá-lo, assim como seus resultados. Onde, portanto, está o ponto de divergência da “auto-estrada da verdade do Rei”? Qual é o primeiro passo em direção ao erro? Seria duvidar desta doutrina, ou o questionar aquele sentimento, ou o ser cético quanto àquele artigo de fé? Pensamos que não. Essas dúvidas e ceticismo resultam de algo que surgiu”.

O primeiro passo em direção ao erro é a falta de uma fé adequada na inspiração divina das escrituras. Enquanto um homem se curva à autoridade da Palavra de Deus, certamente não entreterá pensamentos contrários aos ensinos da Escritura. Ele considera verdadeiras todas as coisas do Livro santo e, portanto odeia todo caminho falso. Mas, no momento em que alguém questiona ou alimenta pontos de vista inferiores quanto à inspiração e à autoridade da Bíblia, ficará sem um mapa para guiá-lo e sem uma âncora para firmá-lo.

Os que concordavam com os alertas sonoros de Shindler responderam enviando mais provas de apostasia e de comprometimento por parte de igrejas que outrora eram sadias em seu ensino. Spurgeon leu essas respostas e sentiu-se ultrajado. um homem relatou que “dois ministros o haviam ridicularizado por ter orado pedindo chuva”. Uma mulher contou a Spurgeon que “uma preciosa promessa de Isaías, que lhe trouxera conforto, tinha sido declarada não-inspirada por certo pastor”. A mesa do editor de A espada e a Colher de Pedreiro ficou repleta de relatos semelhantes.

Spurgeon escreveu:

“Nossa solene convicção é que as coisas, em muitas igrejas, estão piores do que parecem, e a tendência é de uma descida ainda mais acentuada. Leia os jornais que representam a Escola Liberal da Discordância e pergunte-se: Quão mais longe poderão ir eles? Que doutrina não foi abandonada? Que outra verdade  será alvo de desprezo? Iniciou-se uma nova religião, que não é mais o cristianismo, assim como o giz não é queijo; e essa religião, destituída de honestidade moral, intitula-se a velha fé com “pequenas melhorias” e, baseada nessa alegação, usurpa púlpitos que foram erigidos para pregar o evangelho”.

Em lugar da pregação do evangelho, essa “nova e melhorada” variação de cristianismo não passava de divertimentos alternativos. Spurgeon alertou que muitos estavam transformando a igreja em “casas de diversão”, permitindo que os valores e técnicas do teatro invadissem o santuário do Senhor.

Quem devia ser culpado primordialmente por esse declínio?
Spurgeon acreditava serem os pregadores:

“O caso é triste. Alguns ministros estão se tornando infiéis. Ateus declarados não constituem um décimo do perigo representado por tais pregadores, que semeiam dúvidas e injuriam a fé... a Alemanha tornou-se incrédula por causa dos seus pregadores, e a Inglaterra está seguindo os mesmo passos”.

Spurgeon não fez qualquer esforço para encobrir seu desprezo pelos modernistas:

”Esses destruidores de nossas igrejas aparentam estar tão contentes com seu trabalho quanto macacos com suas travessuras”.

Àqueles que se ofendessem  por tal franqueza, Spurgeon escreveu:

“Um pouco de conversa sincera  faria um bem enorme a nosso mundo, nestes dias. Esses cavalheiros não querem ser molestados. Não desejam que se levantem vozes contra eles. É claro que ladrões detestam cães de guarda e adoram a escuridão. Já é hora de alguém tocar sirene e chamar atenção para a forma em que Deus está sendo roubado de sua glória e os homens, de sua esperança”.

No final do artigo, Spurgeon disparou a seguinte crítica, que, pela primeira vez, suscitou a questão que se tornaria o foco da controvérsia subsequente:

“Até onde podem fraternizar aqueles que permanecem na fé que uma vez por todas foi entregue aos santos com os que se voltaram a outro evangelho? Esta é uma questão muito séria. O amor cristão tem suas reivindicações, e as divisões deveriam ser evitadas como um mal angustiante; mas quanto podemos nos justificar por estarmos em aliança com aqueles que estão se afastando da verdade? É uma pergunta difícil de responder, quando desejamos manter o equilíbrio de nossos deveres. No presente, entretanto, cabe aos crentes serem cuidadosos, a fim de não darem apoio e aprovação aos traidores do Senhor. Uma coisa é passar por cima de todas as fronteiras de restrições denominacionais por amor à verdade; e isto esperamos que homens piedosos, façam cada vez mais. Mas outra política bem diferente é aquela que nos impele à subordinar a sustentação da verdade à prosperidade e à unidade denominacional. Muitas pessoas tolerantes fecham os olhos para o erro, se este for cometido por alguém inteligente ou por um irmão bem intencionado, possuidor de várias qualidades. Que cada crente julgue por si mesmo; mas, quanto a nós, acabamos de colocar algumas trancas novas em nossas portas e demos ordens específicas para que seja colocada a corrente de segurança; pois, sob a alegação de solicitar a amizade de servo, estão aqueles que almejam roubar o mestre”.

O artigo abalou o mundo evangélico. Spurgeon, que por décadas havia sido, de maneira geral, admirado pelos evangélicos, foi subitamente sitiado por críticos procedentes de sua própria casa. Aquilo que ele estava propondo era diametralmente oposto ao consenso do pensamento evangélico. Todas as tendências convergiam em direção à unificação, harmonia, amalgação e fraternidade.

De repente, ecoa uma voz solitária, porém a mais influente de todas, instando os verdadeiros crentes a se tornarem separatistas, A igreja não estava preparada, nem disposta a ouvir tal conselho, ainda que viesse do príncipe dos pregadores.

Spurgeon recusou o comprometimento:

“Permita-se que continuem no caminho estreito aqueles que o pretendem e que sofram por sua escolha; mas pensar em poder seguir, ao mesmo tempo, pelo caminho largo é um absurdo. Que comunhão existe entre Cristo e Belial? Chegamos até aqui e paramos para refletir. Nós, os que temos a mesma maneira de pensar, esperemos no Senhor, a fim de saber o que Israel deverá fazer. Com fé inabalável, tomemos nosso lugar; não com ira, não com espírito de suspeita ou divisão, mas em vigilância e resolução. Que não pretendamos ter uma comunhão que não sentimos existir nem escondamos as convicções que ardem em nossos corações. Os tempos são perigosos, e a responsabilidade de cada indivíduo é um fardo que precisamos carregar ou, então, nos mostramos traidores. O Senhor esclarecerá a cada homem qual o seu lugar e o curso que deverá seguir”.

No dia 28 de outubro de 1887, Spurgeon escreveu a Samuel Harris Booth, Secretário Geral da União Batista:

“Caro amigo, cumpre-me anunciar-lhe, como secretário da União Batista, que preciso sair desta entidade. Faço isto com o mais profundo pesar; mas não tenho outra escolha. As razões estão enunciadas em A Espada e a Colher de Pedreiro, exemplar de carta. Motivado pela mais sublime das razões, tomei este passo, e você sabe que há muito o tenho adiado, na esperança de que as coisas melhorassem.

Mui Atenciosamente,

C.H. Spurgeon”.

Spurgeon não se esforçou ativamente por tirar outros da União, mas não pôde compreender por que homens que se propunham a permanecer fiéis às escrituras continuavam pertencendo a uma organização que estava, de forma tão óbvia, descendo ladeira abaixo em alta velocidade. Ele afirmou:

“Vários bons irmãos permanecem, de formas variadas, em comunhão com aqueles que estão minando o evangelho; e falam da sua própria conduta como se fora o caminho amável que o Senhor aprovará na sua volta. Não conseguimos entendê-los. Para com homens que professam ser cristãos e, ao mesmo tempo, negam a Palavra do Senhor, rejeitando as coisas fundamentais do evangelho, o dever obrigatório de uma  de um verdadeiro crente é sair do meio deles. Se for dito que esforços precisam ser feitos afim de produzir reformas, concordamos com a observação; mas, quando sabemos que os mesmos serão inúteis, para que servem? Quando a base da associação permite o erro, chegando quase a atraí-los, e existe uma evidente determinação em não alterar essa base, nada resta que possa ser feito ali dentro de qualquer préstimo vital. Nosso vigente e pesaroso protesto não é uma questão que se refere a este ou àquele homem, a este ou àquele erro; é uma questão de princípio”.

Ele foi o primeiro evangélico, com influência internacional, a declarar guerra ao modernismo. A União Batista jamais foi a mesma. Mas a Aliança evangélica, uma associação interdenominacional, posicionou-se ao lado de Spurgeon e fortaleceu-se. As atitudes de Spurgeon ajudaram a alertar os crentes do mundo todo quanto aos perigos do modernismo e do declínio. Recordando certo acontecimento naqueles anos finais e tumultuados, quando Spurgeon foi convidado a falar à Aliança Evangélica, Shindler escreveu:

“A atenção dada pelo auditório ao Sr. Spurgeon, ao ter ele se levantado para falar, foi quase esmagadora em ser fervor e vigor. Ocupamos um lugar na plataforma, perto o suficiente para testemunharmos as poderosas emoções que agitaram a alma de Spurgeon e as lágrimas que desceram por sua face, enquanto ele ouvia os oradores que o precederam; e, embora apenas alguns poucos de seus amigos batistas estivessem presentes, não houve falta de demonstrações de cordial simpatia que deve ter trazido ânimo ao seu coração e conforto à sua alma. Desde então, os tempos têm revelado muita coisa; os meses e os anos vindouros, sem dúvida, deixarão mais e mais evidente quão necessário foi o protesto que a fidelidade a Deus e ao evangelho não permitiram que ele retivesse”.
 
Que o Senhor graciosamente purifique sua igreja de toda doutrina falsa, de todos os falsos mestres e de todos os que são traidores no arraial de Israel! E que, do alto, O Espírito seja derramado sobre toda carne, de forma que os confins da terra vejam, e possuam, e se regozijem na salvação de nosso Deus!

Extraído e editado do livro “Vergonha do Evangelho”de John Macarthur

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